Que jogos de zumbi são uma febre não há como negar, e por este motivo chovem títulos e mais títulos a cada novo mês. Jogos em primeira pessoa, terceira, isométricos, em episódios, arcade, mods, e como uma verdadeira horda de podres caminhantes, eles invadem as lojas online por todos os lados. Fica realmente difícil decidir qual jogar, e experimentar todos é uma tarefa bem complicada, ainda mais com a vida corrida que temos hoje em dia.
Eu, particularmente, possuo um gosto bem definido em relação a jogos deste gênero. Estas histórias de facão com dano elétrico, com bônus em congelamento, munição incendiária, sinceramente, não me chama atenção. Fico imaginando como aplicar um golpe e acabar congelando um zumbi. Será que ele está levando nitrogênio líquido pra fazer isso acontecer? Acho um pouco fora da realidade, apesar de que, uma ameaça zumbi também não é algo muito real, pelo menos por enquanto.
Minha praia é mais sobrevivência clássica: Fome, sede, cansaço, carregar apenas o necessário, fazer uma casa segura e não conseguir matar hordas de zumbis sozinho. Gosto de tática, de estratégia, de ter que pensar como fazer, não agir que nem um louco. Esta fórmula eu já andei comentando anteriormente em um artigo onde falo sobre A espera de um survival ideal.
É por isso que eu simplesmente adoro jogos indies. Eles não estão presos às amarras da indústria capitalista do entretenimento eletrônico, onde os jogos são baseados em tendências de mercado, afogando a criatividade de ótimos desenvolvedores. Empresas indie tem a coragem de arriscar, de experimentar, de colocar seus ideais acima do que é modinha, mostrando para o mercado que é possível fazer diferente, reinventar, caprichar, se divertir.
E FOI ASSIM QUE TUDO COMEÇOU
Após ler um artigo, que infelizmente não lembro o link agora, que falava sobre 10 games survivors para se jogar, acabei esbarrando em Project Zomboid da Indie Stone, onde comprei a ideia deles.
Imagine um The Sims com zumbis. Você sente fome, sede, cansaço, sono, o básico de um game de sobrevivência. Vários já fizeram isso. Mas em PZ você também sente medo, estresse, pega gripe, sente calor e frio, fica entediado, sente dor, pode inclusive ficar depressivo. Estes elementos colocam o player verdadeiramente em uma situação de sobrevivência, transformando, além de um game de ação e RPG, e um game de administração, tendo que ficar atento a todos estes aspectos.
E não para por ai! A Indie Stone teve o capricho de colocar muitos dos elementos clássicos de filmes de zumbis dentro do game. Um bom exemplo disso é que o podres reagem ao som e a luz do cenário, onde utilizar armas de fogo pode não ser uma boa ideia.
A exploração do mapa é outro item muito interessante a ser analisado. Você tem a possibilidade de explorar a cidade de Muldraugh ou West Point. Quando começa o game, você acaba contando um pouco com o fator sorte, pois dependendo de sua localização, a probabilidade de você não conseguir achar um lugar seguro ou ser mordido é muito grande.
Falando em lugar seguro, em PZ isso é algo primordial. Você, na pele de seu personagem, possui várias necessidades como sono, cansaço, fome e sede. Juntando outros elementos como estresse e medo, um lugar para descansar com segurança é muito importante. A mecânica do jogo permite que você invada casas, explore todos os cômodos e crie barricadas. Explorar uma casa é uma tarefa muito perigosa, pois se você for descuidado um zumbi pode surpreendê-lo. Inclusive a grande incidência de mortes no game se dá justamente nestas explorações.
Após encontrar seu lar doce lar, você pode criar barricadas nas janelas, empurrar móveis para as portas e fechar as cortinhas de todos os cômodos para não atrair a atenção do “pessoal” do lado de fora. Sua janela está sem cortinas? Sem problemas! Basta pegar um lençol e colocar no lugar dela.
A universo do game é muito rico em ações. Para se ter uma ideia, seu personagem não consegue dormir tranquilamente em um quarto caso tenha um “morto morto” lá dentro. Você deve pegar o corpo do zumbi e carregá-lo para fora de sua casa. Se você é uma pessoa mais caseira, então prepare-se para coletar jornais, livros e revistas, pois seu personagem pode ficar entediado de ficar muito tempo parado.
A mecânica do jogo foi muito bem pensada. Geralmente em jogos isométricos, você possui uma visão de 360º em relação ao ser personagem, criando a clássica área escura representando seu campo de visão no game. Em PZ isso é diferente. Seu personagem possui um ângulo de visão apenas do que está a sua frente, fazendo com que você tenha que constantemente verificar se não há inimigos à sua retaguarda. Muito interessante também é a visão em relação a obstáculos. Caso você esteja em frente a uma árvore, todos os elementos atrás delas não ficam visíveis, e isso ocorre para todos os elementos sólidos do game, como casas, muros, entre outros.
Outra coisa a ser comentada sobre a mecânica do jogo é em relação a comida. Em PZ existem alimentos perecíveis e os não perecíveis. Após 5 dias, no tempo do jogo, acaba a luz e a água da cidade, fazendo com que em mais alguns dias todos os alimentos perecíveis da cidade apodreçam. Alimentos crus ou secos, como macarrões instantâneos ou carnes, necessitam ser cozinhados para poder consumi-los. Isso faz com que a administração de recursos seja primordial para sua sobrevivência.
Em relação a armas de fogo e de combate corpo a corpo, pode ter certeza que a Indie Stone não decepcionou. Além do clássico elemento de durabilidade das armas brancas, a combinação do fator medo e cansaço faz grande diferença na hora dos combates. Sua pontaria com uma pistola pode ser muito afetada caso seu personagem fique “apavorado”. Se você estiver ferido, com sono ou até mesmo gripado, tudo isso acaba influenciando a maneira como você enfrenta um zumbi.
O game também se preocupou muito em como o som influencia o comportamento dos zumbis. Caso você decida utilizar armas de fogo em um combate, então fique preparado para enfrentar uma horda de zumbis, vindo de todos os lados. Muito interessante também e observar como os zumbis se comportam em um dia chuvoso e com muitos trovões (sim, em PZ, além dos ciclos de dia e noite, também chove), onde acabam ficando extremamente agitados e andando para todos os lados.
PZ caprichou bastante também na questão da essência RPG do game. Seu personagem possui uma série de atributos como habilidade com armas brancas e de fogo, força, agilidade e resistência, que podem ser melhorados a medida que o jogo vai avançando. Além do básico você ainda possui atributos como carpintaria, culinária, pesca e habilidade em preparar armadilhas. Elas podem ser usadas, no exemplo da carpintaria, para criar barricadas em janelas, muros, portas e até mesmo construções mais complexas, permitindo que o jogador monte, do zero, seu prórpio forte.
MULTIPLAYER E COOP
Sobreviver sozinho a hordas e mais horas de zumbis não é uma coisa fácil, então se você tiver amigos que lhe ajudem nesta jornada acaba tornando sua vida um pouco mais fácil (ou não). Em PZ, até o momento que joguei, era possível criar uma party com até 4 de seus amigos. A mecânica continua praticamente a mesma, onde você e seu amigo começam o jogo em lugares diferentes da cidade, tendo que se encontrar para jogarem juntos. Todos os recursos serão partilhados entre todos os membros da party, dependendo do que for acordado com cada um e a diversão será garantida.
Além do modo coop tradicional existe também o modo Last Standing onde os participantes devem sobreviver a hordas e mais horas de zumbis, se defendendo em uma casa. Também está previsto a disponibilização de servidores PvP, onde pode ser possível matar outros players, mas este modo ainda não tive a oportunidade de testar.
GRÁFICOS E SONS
Não vou aqui comparar PZ com franquias AAA, até porque esta não é a nossa proposta. A análise dos gráficos se dará em relação a proposta do game, como ele se encaixa na engine e em sua performance.
Mesmo comparando inicialmente a jogabilidade de PZ com Diablo, eles com certeza não compartilham da mesma tecnologia gráfica. Diablo 3, com seus gráficos de ponta, modelos 3D muito bem detalhados, enchem nossos olhos como a tela de um grande pintor. PZ traz uma proposta bem mais simplista. Criada na engine Lua, feita por brasileiros, o game traz gráficos em 2D, de forma isométrica. Isso deixa o game ruim? Claro que não! Os gráficos do game caíram como uma luva para a proposta da desenvolvedora, onde apesar de simples, foram muito bem arquitetadas.
Minha única reclamação é quanto a visão dentro das casas. Quando o personagem chega perto de uma parede, dependendo de sua localização, ela se torna semi-transparente. Mas se a casa possui muitas peças, estas paredes ficam sobrepostas, deixando bem difícil a visualização.
Quanto a trilha sonora, apesar de boa, achei irrelevante e repetitiva. Em alguns games a trilha sonora acaba ajudando a criar a ambientação no cenário, criando uma tensão e deixando sempre em estado de perigo. Mas em PZ ela consegue ser tão chata que parece que só existem 2 faixas para todo o game. Quanto ao resto dos sonos, como tiros, pauladas e janelas quebradas, todas elas muito bem executadas.
PONTOS NEGATIVOS
Mas nem tudo são flores! Apesar de uma grande quantidade de qualidades, PZ tem algumas coisas que não conseguiram me agradar. Uma delas, inclusive, é o próprio elemento de RPG. Apesar de você evoluir justamente habilidades que são usadas com frequência, como por exemplo, pontaria, força e carpintaria, para que elas possam ser liberadas você deve gastar XP adquirido em combates. Assim, você pode escolher qual habilidade liberar, ao invés de ser automático, o que seria muito mais coerente.
Outro ponto que não gostei também foi a câmera do jogo. Muitas vezes, explorando o interior de uma casa, a sobreposição de itens semi-transparentes como paredes, portas e janelas, por vezes, atrapalha um pouco a visibilidade, deixando o game ainda mais perigoso.
O fato de não possuir um modo campanha, contando uma história, também acabou deixando um pouco a desejar. Apesar de saber que o objetivo principal é sobreviver e que para isso micro missões devem ser feitas, como coletar água, comida e preparar um lugar seguro, estejam presentes, ainda sim parece que faltou um motivo, um porque para todo aquele caos.
A falta de veículos também foi outro ponto contra, mas totalmente aceitável. Acredito inclusive que isso se deve ao fato de que a Indie Stone tentou fazer com que o player explorasse o máximo possível do mapa. Em todo caso acho que não seria de todo mal poder utilizar veículos.
E por fim, depois de um tempo, o game se torna muito repetitivo, se resumindo em enfrentar hordas, comer, beber e dormir. Você ainda pode gastar um bom tempo construindo uma bela mão a beira de um rio, pescar, caçar, mas de qualquer forma, no fim, continuaria repetitivo.
VALE APENA JOGAR?
Se você curte jogos ao estilo Diablo, com elementos de RPG e que tenha muitos zumbis (muitos mesmo), Project Zomboid acaba sendo uma compra ideal para investir horas e mais horas jogando. Mesmo sendo um projeto indie, a qualidade de execução impressiona, o que garante muita diversão e muito trabalho a ser feito no universo do game. E se você ainda possuir um ou mais amigos para compartilhar uma party, o game acaba se tornando ainda mais divertido.
Ficou curioso em conhecê-lo? Então não perca tempo e baixe a DEMO. Com o mercado atual suprimindo cada vez mais as DEMOS e trabalhando no formato de PAGUE PARA VER, a Indie Stone me deixou muito feliz em ter disponibilizado uma versão reduzida para que eu pudesse avaliar o game antes de comprar.
A DEMO de Project Zomboid já está disponível na loja da Steam. BOA CAÇADA!
Desenvolvedor WEB, ciclista, PCista (não sou fanboy, só acho que o PC é melhor que todas as outras plataformas), mas principalmente, aficionado por games, sou fundador do site JogandoAgora e também do GameIntro. Curto games com um bom enredo e também gosto de discutir (bater boca mesmo) com meus amigos sobre campanhas single player, e de vez em quando, ganhar algumas partidas multiplayer dos meus filhões, afinal de contas, humildade bem acima de tudo.
Jogos preferidos: StarCraft 2, Xcom, Mass Effect, Gears of War, Battlefield.